sexta-feira, 12 de junho de 2009

Perdoa-me, Visão dos meus Amores

Perdoa-me, visão dos meus amores,
Se a ti ergui meus olhos suspirando! ...
Se eu pensava num beijo desmaiando
Gozar contigo uma estação de flôres!
De minhas faces os mortais palores,
Minha febre noturna delirando,
Meus ais, meus tristes ais vão revelando
Que peno e morro de amorosas dores...
Morro, morro por ti! na minha aurora
A dor do coração, a dor mais forte,
A dor de um desengano me devora..
.Sem que última esperança me conforte,
Eu - que outrora vivia! - eu sinto agora
Morte no coração, nos olhos morte!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Inesquecível

Às vezes me pergunto se eu viverei sem ter vocêse saberei te esquecer
passa um momento e eu já sei você é o que eu quero ter inesquecível para amar
Mais que uma história pra vivero tempo parece dizer não,
não me deixe mais nunca me deixe quanto mais longe possa
estaré tudo o que eu quero pensarnão, não me deixe maisporque eu te quero aqui
inesquecível em mim
Ouço a sua voz e a alegria dentro de mim faz moradia
vira tatuagem sob a pelete levo sempre em meu olhar
não canso de te procurar entre meus lábios sinto a falta de você
E assim, profundamente meu pra que pensar que existe adeus
não, não me deixe mais nunca me deixe já não preciso nem dizero quanto eu me apaixonei
não, não me deixe mai snunca me deixe e vou dizer porque
Se existe céuvocê sempre será inesquecível para amar,




Laura Pausini

SONETO DE SEPARAÇÃO

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez o drama
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


Vinícius de Morais

Alma minha gentil, que te partiste

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Algu~a cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


Luís de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

Soneto Do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.


Vinicius de Moraes

A VALSA

Fez tanto luar que eu pensei nos teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos,
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.
Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege
e estudo apenas o ar e as águas.
Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias do mundo...
- Os ares fogem, viram-se águas,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam.Fez tanto luar que eu pensei nos teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos,
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.
Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege
e estudo apenas o ar e as águas.
Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias do mundo...
- Os ares fogem, viram-se águas,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam.

CECILIA MEIRELES

A Carta

Escrevo-te Estas mal traçadas linhasMeu amor!
Porque veio a saudade Visitar meu coração
Espero que desculpes Os meus errinhos por favor
Nas frases desta carta Que é uma prova de afeição...
Talvez tu não a leias Mas quem sabe até darás
Resposta imediataMe chamando de "Meu Bem"
Porém o que me importa É confessar-te uma vez mais
Não sei amar na vida Mais ninguém...Tanto tempo faz
Que li no teu olhar A vida cor-de-rosa Que eu sonhava
E guardo a impressão De que já vi passar
Um ano sem te verUm ano sem te amar...
Ao me apaixonar Por ti não reparei
Que tu tivestes Só entusiasmo E para terminar Amor assinarei
Do sempre, sempre teu...Tanto tempo faz
Que li no teu olharA vida cor-de-rosa
Que eu sonhava E guardo a impressão
De que já vi passar Um ano sem te ver
Um ano sem te amar...Ao me apaixonar
Por ti não repareiQue tu tivestes Só entusiasmo
E para terminar Amor assinarei Do sempre, sempre teu...

Benil Santos e Raul Sampaio

Essa que eu hei de amar…


Essa que eu hei de amar perdidamente um diaserá tão loura,
e clara, e vagarosa, e bela,que eu pensarei que é o sol que vem,
pela janela,trazer luz e calor a essa alma escura e fria.
E quando ela passar, tudo o que eu não sentiada vida há de acordar no coração, que vela…
E ela irá como o sol, e eu irei atrás delacomo sombra feliz…
— Tudo isso eu me dizia,quando alguém me chamou.
Olhei: um vulto louro,e claro, e vagaroso,
e belo, na luz de ourodo poente, me dizia adeus, como um sol triste…
E falou-me de longe: "Eu passei a teu lado,
mas ias tão perdido em teu sonho dourado,
meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!"


Guilherme de Almeida

GIZ

E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero
Quando quero
Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És parte ainda do que me faz forte
E, pra ser honesto,Só um pouquinho infeliz
Mas tudo bemTudo bem, tudo bem...
Lá vem, lá vem, lá vem
De novo:Acho que estou gostando de alguém
E é de ti que não me esquecerei
(Quando quero....Quando quero...
Quando quero...Eu rabisco o sol que a chuva apagou...
Acho que estou gostando de alguém...)

AMOR E MEDO

AMOR E MEDO

Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
"Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"

Como te enganas! meu amor, é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco...
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...

Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.

O véu da noite me atormenta em dores
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair cias tardes,
Eu me estremece de cruéis receios.

É que esse vento que na várzea — ao longe,
Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!

Ai! se abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao raio que a tormenta envia:
Diz: — que seria da plantinha humilde,
Que à sombra dela tão feliz crescia?

A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho
E a pobre nunca reviver pudera.
Chovesse embora paternal orvalho!

Ai! se te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas! ...

Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos — palpitante o seio!...

Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala, a protestar baixinho...
Vermelha a boca, soluçando um beijo!...

Diz: — que seria da pureza de anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
Tu te queimaras, a pisar descalça,
Criança louca — sobre um chão de brasas!

No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem,
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!

Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.

Depois... desperta no febril delírio,
— Olhos pisados — como um vão lamento,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?...
Eu te diria: desfolhou-a o vento!...

Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito!
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!...

Casimiro de Abreu